As lições retiradas do ensino da história de guerras na Europa
- Tutorial
- Tempo de leitura: 7 minutos
- 04.05.2022
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Imagem: PhotoBank / Adobe Stock
Durante as épocas de conflito, tal como a guerra na Ucrânia, a questões das narrativas históricas e como estas são ensinadas estão sob escrutínio. Este tutorial vai examinar como os professores de história podem lidar com o conflito e a diferença e tornar o assunto significativo para todos os alunos.
Em 1954, no rescaldo da Segunda Guerra, a Convenção Cultural Europeia convocou os seus membros para se unificarem através do estudo das civilizações, idiomas e história uns dos outros.
Cerca de três quartos de século mais tarde, o ensino de história continua a ser um desafio para os educadores, pois a maioria dos programas de ensino nacionais apresentam "espelhos de orgulho e dor nos quais enfatizam o sofrimento e orgulho nacionais, enquanto a dor causada aos outros é atenuada ou nem sequer é mencionada" (van der Leeuw [em inglês]). Simultaneamente, existe uma maior compreensão acerca do assunto e como é que deve evoluir de forma a prosperar e encorajar sociedades diversificadas e democráticas.
Algumas das noções a ter em conta neste contexto são empatia histórica, várias perspetivas, várias identidades e co-criação.
1. Empatia histórica
Apesar do nome parecer enganador, empatia histórica é um ato mais analítico do que emotivo. Significa "ter em conta estruturas de ideias que não são nossas e que com as quais é possível discordar na totalidade" (Ashby e Lee). Ajuda os alunos a desenvolver capacidades de investigação, bom senso, sensibilização, entre outros.
Um exemplo prático: o estudo de Endacott de 2014 no qual alunos foram ensinados acerca do lançamento da bomba atómica por Harry Truman em 1945. Apresentou aos alunos as narrativas na primeira pessoa e outros materiais e depois colocou questões como: Toda a gente acreditava nestas coisas na altura ou havia pessoas e grupos que pensavam de maneira diferente? e O que é que esta fonte histórica vos diz acerca dos princípios, crenças, valores ou posições da figura histórica? Conforme o estudo avançava, mais analíticos se tornavam os alunos das escolhas de Truman.
2. Várias perspetivas
Várias perspetivas é a noção que não devemos esperar uma única verdade histórica, mas sim vários pontos de vista e interpretações do passado possíveis, provenientes de diferentes fontes. Obviamente, os alunos têm de ser informados que nem todos os pontos de vista são válidos e deve ensinar-se como verificar factos e técnicas de desmistificação.
O projeto educativo de história bilateral no Chipre do Conselho da Europa apresenta uma atividade relevante, na qual se pede aos alunos para realizar investigação para um filme hipotético. Num dos passos, os alunos têm de decidir como apresentar a Batalha de Lepanto de 1571 e ver como a narrativa pode mudar tendo em conta a perspetiva, por exemplo, na perspetiva da corte real em Espanha ou do conselheiro do sultão.
3. Identidades
Pode ser um desafio utilizar o ensino de história para desenvolver identidades nacionais e da UE simultaneamente. No entanto, existe cada vez mais a noção que as pessoas têm várias identidades coexistenes.
Isto remonta à "hibridez" ou "emaranhado" de culturas (Stockhammer). Aspetos diferentes das culturas podem fundir-se ou emaranhar-se devido às mudanças sociais correntes, movimento e atividade e por causa de mudanças maiores, tais como desastres naturais, colonização, invasão e desenvolvimentos tecnológicos ou militares.
O uso de "identidades" plurais com os alunos pode ajudar a compreender este entendimento.
4. Co-criação de significado
A natureza construtivista da história também torna possível que as pessoas possam co-criar significado. Algumas boas práticas incluem:
- escrita de livros de história em conjunto ou livros comparativos, tal como História da Europa de Delouche ou comissões conjuntas para os livros de história germano-polacos e germano-checos sobre a Segunda Guerra Mundial do Georg-Eckert-Institut für Schulbuchforschung ou este projeto acerca da inclusão da Ucrânia nos livros de história de outros países [em inglês];
- ênfase nos aspetos da cultura partilhados, por exemplo, escolas na Irlanda do Norte que realçam música, símbolos e ícones em comum com as comunidades nacionalistas ou unionistas;
- diálogo entre alunos, que continua a ser melhor maneira de discutir assuntos controversos, de acordo com inquéritos aos professores ("Contested Histories in Public Spaces" [em inglês]);
- trabalho em parceria, isto é, professores a trabalharem com museus, com testemunhas comtemporâneas, famílias, figuras da comunidade ou líderes da juventude que podem ter histórias para partilhar.
A co-criação pode ainda ajudar os professores a integrar pais, quebrar barreiras e abordar assuntos mais controversos que tendem a evitar noutras situações.
Este tutorial teve como base:
- "Developing a culture of co-operation when teaching and learning history" (Conselho da Europa, 2016) [em inglês]
- "Shared histories for a Europe without dividing lines" (Conselho da Europa, 2016) [em inglês]
- "Building bridges through inclusive and cross-border history education" (Comissão Europeia, 2020) [em inglês]
Recursos adicionais:
https://www.schooleducationgateway.eu/pt/pub/resources/publications/inclusion-of-young-refugees-.htm
https://op.europa.eu/pt/publication-detail/-/publication/cd9faea8-ba77-11ea-811c-01aa75ed71a1
https://www.coe.int/en/web/reference-framework-of-competences-for-democratic-culture/home
https://op.europa.eu/pt/publication-detail/-/publication/cd9faea8-ba77-11ea-811c-01aa75ed71a1
https://padlet.com/EuroClio_Secretariat/13ck4n4khw4voyxq
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